quase contos.

daydreamer.

#01

Ele disse que viria.
Às oito, lá estava eu. Prostrado à porta. Sem fechar as pálpebras, sem querer deixar passar nenhum frame, sem me permitir não o avistar de longe logo que fosse possível vê-lo invandindo a esquina que o traria até minha casa.
Eram horas, mas havia apenas alguns minutos sentado ali.
Quase pude contar cada cerda do capacho que dava boas-vindas a qualquer um. Eu estava ali minúsculo naquela espera.
Havia meses que não sentia aquele cheiro de quando o vento passa contra mim, ele no meio... e era incrível como o podia sentir todos os dias. E olhar assustado pra trás esperando uma surpresa boa.
Uma luz cinematográfica iluminava o batente. Não era o sol. Eu o reconheceria. Era a luz daquele astro que só surge no céu quando Ele vem me ver. Eu o percebo há quinze anos. Não queria ser tão preciso. Pode ser que sejam apenas dois. Tudo isso.
Eu estive ali a vida toda sob aquela luz estranha, imerso naquela espera sem fim, mas sempre soube também que ele logo apontaria àquela quina. E tentaria esconder o rosto com o propósito de mostrar o sorriso só de perto.

[continua...]