quarta-feira, novembro 24, 2010

previsão.

sinto que morrerei a qualquer momento.

já não sei como recuperar o que dispensei há tempos.
e o que parecia ter abarcado com o pouco de simpatia de que disponho,
agora tende a partir.
eu também preciso ir.
preciso sair sem avisar...
e quando o desfecho ensaia uma aparição concreta,
lá vou eu novamente retroceder.
continuo no mesmo lugar.
foram eles que decidiram não ficar.

ele fecha a porta, deixando a chave do lado de dentro.
ele está fora.
lembrou de poucas coisas a pôr na mochila sem cor. imunda, como ele.
como uma vida mal vivida. sem passado recordável.
hesitou em frente ao elevador.
abocanhou um punhado de ar que lhe foi suficiente para preencher o peito antes vazio.
rumou à rodoviária.
fechou os olhos e comprou uma passagem qualquer, depois pediu que um estranho também qualquer o guiasse ao terminal correto.
um destino incerto. não fez questão de ler as letras.
não avisou à mãe ou às irmãs.
o quase cônjuge ficou pra trás.
o telefone móvel, esqueceu propositadamente no banco azul minutos antes da partida.
ou melhor: entregou de presente ao estranho também qualquer que lhe fizera o favor amável de guiá-lo à felicidade pequena de ser finalmente livre.

mas como havia dito há meses, ele é mesmo um fraco.
chorou ao ver a cidade diminuindo atrás.
o vidro empoeirado lhe refletiu o rosto da derrota superada.
ele não se orgulhava.
a tentativa de autonomia mais era uma testemunha da fraqueza.
mesmo assim, ele partiu.

Um comentário:

Anônimo disse...

estava com saudade de te ler... é como se pudesse ver seus punhos...
Tem uma melancolia que gosto, gosto muito, essa saudade implicita, o passado entre os dedos que deixa os olhos mareados, mas elas não caem... nunca caem... pela lembrança distante do que poderia ter sido... sem divagações... gostei!